Há momentos em que ela é uma amiga verdadeiramente fiel.
Hoje quero falar da tristeza. Não me perguntem por que, pois eu mesmo não sei.
A tristeza não pede licença, não se explica. Vai chegando de mansinho e espalhando seu perfume de jasmim pelas coisas, até que todas ficam encantadas pela beleza que nela mora. Ficam belas-tristes as nuvens do céu, tristes-belos os bem-te-vis nos galhos das árvores, belos-tristes os objetos silenciosos do meu escritório, e até mesmo o café da manhã fica triste-belo...
A tristeza é sempre bela, pois ela nada mais é que o sentimento que se tem ante uma beleza que se perdeu...
" E quando nos sentimos mais seguros algo inesperado acontece:
um por-do-sol... E estamos perdidos de novo..." (E.Browning).
Mas que será aquilo que nos põe a perder?
A beleza do crepúsculo? Não. Mas a percepção de que a beleza é crepúsculo."Goethe se referia ao crepúsculo, mas também à vida. Aos poucos as coisas vão nos abandonando" O pôr-do-sol é triste porque nos conta que somos como ele: infinitamente em nossas cores, infinitamente nostálgicos em nosso adeus.
Rubem Alves
Revista Bons Fluidos
Foto Valéria CP
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