sábado, 31 de agosto de 2013

Exercício da Paciência ..

Andamos impacientes com nossas próprias limitações,
 refletidas diariamente nas limitações das pessoas que nos cercam.
Paciência é uma virtude. Poderíamos definí-la como a capacidade de autocontrole diante de inúmeras realidades que ultrapassam os nossos limites emocionais , sociais , e espirituais.

Texto sobre a paciencia por: Frei Betto:

    O noviço indagou do mestre  como exercitar a virtude da paciência. O mestre submeteu-o ao primeiro dos  três exercícios: caminhar todas as manhãs pela floresta vizinha ao  mosteiro.

   Disposto a conquistar a paciência e livrar-se da  ansiedade que o escravizava – a ponto de ingerir alimentos quase sem  mastigá-los, tratar os subalternos com aspereza, falar mais do que devia -,  durante nove meses o noviço caminhou por escarpas íngremes, estreitas fendas  entre árvores e cipós, pântanos perigosos, enfrentando toda sorte de insetos  peçonhentos e bichos venenosos.

 Nove meses depois o mestre o  chamou. Deu-lhe o segundo exercício: encher um tonel de água e carregá-lo nos  braços todas as manhãs, ao longo dos cinco quilômetros que separavam o rio da  fonte que abastecia o mosteiro. O noviço tampouco compreendeu o segundo  exercício mas, julgando a sua desconfiança sintoma de impaciência,  resignadamente aplicou-se na tarefa ao longo de nove  meses.

 Chegou o dia do terceiro e último exercício: atravessar,  de olhos vendados, a corda que servia de ponte entre o abismo em se encravava  o mosteiro e a montanha que se erguia defronte. Com muita reverência, por  temer estar ainda tomado pela impaciência, o noviço indagou ao mestre se lhe  era permitido fazer uma pergunta. O velho monge aquiesceu. “Mestre, qual a  relação entre os três exercícios?”

 O mestre sorriu e seu rosto  adquiriu uma expressão luminescente: “Ao caminhar pela floresta, você aprendeu  a perder o medo da paciência. Soube vencer meticulosamente cada um dos  obstáculos e não se deixou intimidar pelas ameaças. Agora sabe que, na vida, o  importante não é disputar na pressa quem chega primeiro. O que vale é chegar,  ainda que demore mil anos. Observou também a diversidade da natureza e dela  tirou a lição de que nem todas as coisas são do jeito que  preferimos.”

 “Ao trazer água do rio, você fortaleceu os músculos  do corpo e aprendeu a servir. A impaciência é a matéria-prima da intolerância,  do fundamentalismo, do desrespeito, da segregação. A paciência exige  humildade, generosidade, solidariedade.”

 O noviço compreendeu,  mas ainda uma dúvida pairava em sua mente. O mestre o percebeu. “Agora você  quer saber por que atravessar de olhos vendados a corda que nos serve de  ponte, não é?”, indagou o velho monge. E acrescentou: “Com a paciência  impregnada em seus pés que trilharam a floresta inóspita; a força impregnada  em seus braços, que aprenderam a servir; agora você fará o exercício da fé.  Não poderá enxergar, mas confiará que a corda permanecerá sob seus pés. Não  poderá apoiar-se, mas se entregará à certeza de que seu corpo é como a água  que você trazia: movimenta-se, mas não cai. Não poderá fugir ao abismo que se  abre abaixo, mas andará convicto de que, do outro lado, há a montanha sólida a  esperá-lo e acolhê-lo. Assim é o Pai de Amor quando nos dispomos, na escuridão  da fé, a ir ao encontro Dele.”

 Após uma pausa de silêncio, o  mestre completou: “Sem fé não há tolerância; sem tolerância, impossível a  paciência.” O noviço dilatou os olhos como que assustado. “O que foi?”,  indagou o velho monge. “Mestre, os fundamentalistas não são pessoas de muita  fé? E não se caracterizam pela intolerância?”

 O mestre sorriu de  modo suave e replicou: “Os fundamentalistas não têm fé, que é confiar  incondicionalmente em Alguém. O que têm é pretensão, confiam apenas em si  mesmos. Eles são o objeto da própria fé. Ao atravessar o abismo, você estará  percorrendo o itinerário que conduz do seu homem velho ao seu homem novo. E o  fará para o bem dos outros. E confie, Alguém o conduzirá pela mão, livrando-o  de todos os riscos.”


Frei Betto é escritor, autor, em  parceria com Leonardo Boff, de “Mística e Espiritualidade” (Garamond), entre  outros livros.

   

  Nada te pertube, nada te amedronte, tudo passa..
 a paciência tudo alcança..
 a quem tem Deus nada falta,
 só Deus basta. (Sta Tereza D'avila)

  Obrigada Senhor, por mais um dia! 

      Um bom fim de semana a todos!

                     Luz e Paz!


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